sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Dentro, o Sol

Escorre em torrente
Do seu corpo quente
Salgado suor!

Sinto estremecer
Seu langor nascer
Seu corpo maior!

Tênue o seu lábio
Em um agir sábio
Recosta-se em mim

Desliza a sua mão
À inferior região
Toca meu jardim

Mergulha o regato
Mergulho insensato!
E quer se fartar

Arde-nos, é Febo
No verão te bebo
Devoro! Em meu mar!

Carolina Rieger Massetti
17/07/2008

Incessantemente


Busco-me
Nestas páginas
Nestas linhas
Nas palavras
Nas entrelinhas...

Busco-me
No omisso
No latente
No ignoto
No entorpecente

Estarei no paradoxo
Do que foi dito e impensado
E em todo pensamento,
Lamentavelmente calado

Busco-me
Entre o refulgir do meu ideal
E minha caminhada inversa
Trânsfuga de mim!!!

Busco-me
Nos defeitos
No desfeito
No afeito
Nos trajes, nos trejeitos
Em todo aposento
No que me aflige
No que te aflige
No meu olhar que finge
Vasculhar o seu olhar
E busca a si mesmo
Narciso em desespero
Em busca d’um espelho
Aonde vai se mirar!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Trecho do conto "Foi o trigésimo terceiro - O calvário"

V
Dormimos entrelaçados, nus, nossos corpos se complementavam, era a reconfiguração da matéria!                                               
Estava prestes a amanhecer, eu despertava em sobressalto vez ou outra, tateava seu corpo testando a realidade das coisas. Ainda estava ali!
Ele disse que sofria de insônia, mas naquele amanhecer ele estava curado e ressonava enquanto minha cabeça em roda me impedia de dormir, eu que nunca sofrera de insônia! Se eu impedisse a hora da partida, se eu bloqueasse a clepsidra que rege o universo, teríamos a eternidade e não haveria dor.
Mas, o despertador tocou, tínhamos que ir! A metamorfose se pronunciara, já estávamos separados, precisávamos falar para que pudéssemos nos entender, o expressivo silêncio falhava!  Já corríamos o risco de nunca mais nos entendermos porque a linguagem é treda, dela entendemos apenas a nossa própria história e, raramente, a do outro que narra. A linguagem traí...
Eu já estava ensaiando o que dizer, tinha que parecer interessante para que ele voltasse sentindo minha falta, mas toda vez que eu tentava ser interessante minha voz saia entrecortada, dava até gagueira, minhas mãos transpiravam, podia mesmo tropeçar. Em frente ao espelho eu estava assombrada com a minha pequenez, tornava-me uma criança desamparada e tola, e rogava a ele em silêncio que de mim cuidasse, que não me deixasse órfã!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Êxtase e desfiguração (Sob a influência do Deus Dionísio)


                                                                  A ribombar os tambores
Embriagam, da tarde, os ares
Elevando altos clamores
Aos tênues raios solares

Transmuta-se em fescenino
Em frêmito, dança, em frenesis
Ferino, morde, felino
Retorno ao bicho da gênesis

E libamos a Dionísio
Engolidos no crepúsculo
Em mim desliza e eu deslizo
Enquanto contraí seu músculo

É a cópula primordial
Somos besta e divindade
Na consagração ritual
É passado e eternidade

E ondeando teu quadril
Em você deságuo quente
Rumando para o teu rio
Enceto forte corrente

Então o tambor silencia
Se metamorfoseados
Lá na dança que sacia
Já, a dormir desfigurados!

Em busca


Em busca de um lugar ao Sol
Na cidade dos desabrigados
De sonhos estamos embriagados
Deixe terminar esse dia, amanhã o arrebol
Estamos em busca de um lugar ao Sol!

Temendo o fracasso
Debatemo-nos num embate
Numa cidade que nos abate
Quanto mais construo mais me desfaço!
Fracasso, num mundo hostil e crasso!

Em busca de um lugar ao Sol,
Às vezes sucumbimos ao cansaço
Então procuro um amigo braço
Mas, com pouco dinheiro só compro etanol
Não compro um abraço sob o Sol!

Na cidade dos desesperados
A civilização é um combate
E a maioria, gado pro abate
O Sol é a busca dos refugiados
Porque não encontramos se é tão grande o Sol?

Por: Carolina Rieger Massetti
Tentando superar minhas resistências, eis a tentativa de um blog!
E de tentativa em tentativa as coisas vão se configurando, como meros erros, quiçá acertos, na eterna matéria do devir!